Estórias infantis para Adultos.

Um dos gostos peculiares que adotei no tempo que passei confinado no meu quarto, foi o habito de ler histórias infantis (não tenho nenhum sobrinho ou irmão pequeno... muito menos filho). Parece um hobby no mínimo inusitado, mas sempre busquei ver além das propostas apresentadas para enxergar o máximo possível do todo.

Tudo começou com “Alice no País das maravilhas” de Lewis Carrol, o próprio contexto do lançamento do livro foi polemico, pois o autor decidiu lança-lo em aberto, não especificando se seria infantil ou adulto. Sempre fui apaixonado por Alice e é uma das minhas estórias preferidas, ela toda certinha naquele mundo do avesso. Pois dai me surgiu, que livros infantis são escritos por adultos e muitos deles têm mensagem escondidas, e até mesmo relatos da vida do autor. No caso de Alice vejo uma critica as logicas e fundamentos básicos, e uma forma de convidar o leitor a questionar tudo antes de engolir, algo como tentar gerar um senso critico nas crianças, já que durante toda a obra Alice é convidada simplesmente a pensar e divagar sobre o ocorrido, muito parecido com o humor acido de Douglas Adams ( Guia do Mochileiro das Galáxias).

Logico não sai lendo qualquer coisa, parti para literatura clássica, busquei o mágico de Oz(Baum). Neste livro a mensagem que mais me intriga até hoje é “o Kansas”, terra natal de Doroti, no livro é descrito como um lugar tenebroso, cinza sem vida sem cor, com muita pobreza e solidão, onde a protagonista só tinha como companhia os tios já idosos. Porém mesmo a heroína estando em Oz, lugar: magico, maravilhoso, colorido, cheio de vida, criaturas magicas e aventuras, o maior desejo dela é voltar para o Kansas, e a mensagem do livro é:” Não há lugar como nosso lar”. Essa mensagem me tira o sono até hoje, visto que nunca adotei um lugar como sendo meu lar.

Depois parti para Peter Pan de James Matthew Barrie , que acompanhado do filme “Em Busca da terra do Nunca” é um prato cheio para interpretações, já que foi totalmente baseado em experiências vividas pelo autor, e cheio de projeções de sua própria personalidade. Abro um parêntese pessoal aqui para o fim do livro, em que Peter vem visitar Wendy quando ela já está adulta e a mesma se envergonha por ter crescido e não poder mais voltar à terra do nunca, esse trecho para mim foi imensamente triste e realmente me fez chorar, parece que o autor o escreveu de propósito para que os adultos que xeretassem no seu mundo magico terminassem o livro com um amargo na boca, pois estavam onde não deviam estar. Chorei muito sim, pois que adulto gosta de crescer?

Um clássico dos clássicos da literatura infantil mundial foi ”O Pequeno Príncipe” ou “Le Petit Prince” de Antoine Saint-Exupéry, mais um exemplo de vida do autor transposta em parábolas. Tive o privilégio de ler uma versão que contava com uma biografia bem sólida junto. O autor era piloto de avião, assim como o homem que acompanha a narrativa do Príncipe e como o próprio Príncipe (afinal ele é um viajante interplanetário) sendo ambos os personagens duas versões de si mesmo (do autor), a rosa pela qual o príncipe tanto cativa seria sua ex-mulher rabugenta. A queda dele no deserto em quase lhe custou à vida remete ao eixo central da trama que tem por fim o retorno do Príncipe ao seu mundo pela picada de uma cobra, outra cena que me arrancou lagrimas, pois uma criança sem questionar diria que nosso pequeno herói retornou em paz, mas nós como adultos nos perguntaríamos: Ele morreu?

Enfim todas essas estórias “infantis” não seriam apenas uma forma dos autores expressarem seus sentimentos mais puros e verdadeiros acerca da vida ao olhar de uma criança? Li muitos contos de fadas e suas versões tradicionais com finais chocantes, mas isso fica para outro post... Até mais.